Do conto como cânone da poesia: Eça, Machado e as aporias da modernidade

Palavras-chave: conto, poesia, brevidade

Resumo

Se nos propusermos ler os contos «Missa do Galo», de Machado de Assis (1893), e «Civilização» (1892), de Eça de Queirós, à luz da pauta catego­rial do conto, verificamos que a inquestionável modernidade da narrativa breve de Machado não se mostra propriamente reconhecível no conto queirosiano. Na esteira já antiga (mas inquestionavelmente moderna) de Poe, o conto de Machado procura mostrar por que razão o exercício narra­tivo é, neste género literário, tão necessário como malquisto – porque há sempre nele uma história para contar, mas dela conta-se apenas o seu ros­to mais visível, cujo perfil secreto parece preferir recolher-se à virtualida­de significativa de um instante que abre depois para o que o transcende em possibilidade de significação. Por seu lado, o conto de Eça, publicado pela primeira vez em 1892 na portuguesa Gazeta de Notícias (e que viria posteriormente a figurar como matriz do romance A cidade e as serras, publicado em 1901), não acolhe a discursividade de fotograma que enfor­ma o conto de Machado de Assis, ainda hoje profundamente moderno na defesa compositiva de uma brevidade que não pode medir-se em função do fio de lógica ditado pelo número.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Isabel Cristina Rodrigues, Universidade de Aveiro

É Professora Catedrática do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro, onde leciona desde 1991, tendo apresentado uma dissertação de doutoramento sobre a obra de Vergílio Ferreira (A Palavra Submersa. Silêncio e Produção de Sen­tido em Vergílio Ferreira), publicada em 2016 pela INCM e à qual foi atri­buído, em 2017, o Grande Prémio de Ensaio da Associação Portuguesa de Escritores (APE). Exerce maioritariamente a sua docência e investigação nos domínios da Literatura Portuguesa Contemporânea e da Teoria da Literatura. Em extensão do seu percurso académico, tem integrado júris de prémios literários como os da Associação Portuguesa de Escritores e da Associação Portuguesa dos Críticos Literários, bem como o painel de Estudos Literários encarregado da avaliação de Projetos de Doutoramento e Pós-Doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).

Referências

ALDECOA, Ignacio. Opiniones de algunos autores sobre el cuento. In: BRANDENBERGER, Erna. Estudios sobre el cuento español contemporáneo. Madrid: Editora Nacional, 1973. p. 128-144.

AMAT, Nuria. Escribir cuentos (epílogo). In: MANSFIELD, Katherine. En la bahía. Buenos Aires: Editora Losada, 2003. p. 209-220.

ASSIS, Machado de. Missa do Galo. In: ASSIS, Machado de. Missa do Galo e outros contos. São Paulo: Editora Unesp, (2011 [1893]). p. 11-19.

BORGES, Jorge Luis. Prólogos con un prólogo de prólogos. Buenos Aires: Emecé, (1999 [1975]).

CORTÁZAR, Julio. Algunos aspectos del cuento. Cuadernos Hispanoamericanos. Madrid, n. 255, p. 403-416, mar. 1971. Disponível em: http://www.cervantesvirtual.com/nd/ark:/59851/bmc7w6w6. Acesso em: 10 mar. 2024.

GIBOUX, Audrey. Tradition, Modernité: un éternel retour? Préface. Comparatismes en Sorbonne, n. 1, p. 9-21, fev. 2010. Disponível em : https:// univ-rennes2.hal.science/hal-016203642. Acesso em: 10 mar. 2024.

HOYO, Arturo del. Opiniones de algunos autores sobre el cuento. In: BRANDENBERGER, Erna. Estudios sobre el cuento español contemporáneo. Madrid: Editora Nacional, 1973. p. 132-134.JORGE, Lídia. O signo da brevidade. In: JORGE, Lídia. Em todos os Sentidos. Lisboa: D. Quixote, 2020. p. 149-153.

LOPES, Adília. Fazer prosa, fazer rosa. Crónicas da Vaca Fria,[S. l.] 18 jun. 2001. Disponível em: https://arlindo-correia.com/adilia_lopes_fria. html#Fazer%20Prosa,%20Fazer%20Rosa. Acesso em: 10 mar. 2024.

MATUTE, Ana María. Opiniones de algunos autores sobre el cuento. In: BRANDENBERGER, Erna. Estudios sobre el cuento español contemporáneo. Madrid: Editora Nacional, 1973. p. 140-141.

MAY, Charles (2004). Why Short Stories are Essential and Why They are Seldom Read. ResearchGate, California State University, p. 1-14, jan. 2004. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/242233322_ Why_Short_Stories_Are_Essential_and_Why_They_Are_Seldom_ Read: Acesso em: 10 mar. 2024.

NOVALIS. Escritos escogidos. Edición de Ernst-Edmundo Keil e Jenaro Talens. Madrid: Visor, 2014. p. 103-123.

PATEA, Viorica (ed.). Short Story Theories. A Twenty-first-century Perspective. Amsterdam-New York: Editions Rodopi, 2012.

PIGLIA, Ricardo. Teses sobre o conto. In: PIGLIA, Ricardo. Formas Breves. Trad. de José Marcos Mariani de Macedo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. p. 89-94.

PIWNIK, Marie-Hélène. Introdução. In: QUEIRÓS, Eça de. Contos I. Edição crítica de Marie-Hélène Piwnik. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2009. p. 16-32.

POE, Edgard Allan. The Poetic Principle (1850). In: POE, Edgard Allan. Essays and Reviews. New York: The Library of America, 1984a. p. 71-94.

POE, Edgard Allan. Nathaniel Hawthorne. Twice-Told Tales (1842). In: POE, Edgard Allan. Essays and Reviews. New York: The Library of America, 1984b. p. 568-577.

POE, Edgard Allan. Nathaniel Hawthorne. Twice-Told Tales and Mosses from an Old Manse (1842). In: POE, Edgard Allan. Essays and Reviews. New York: The Library of America, 1984c. p. 577-588.

QUEIRÓS, Eça de. Civilização. In: QUEIRÓS, Eça de. Contos I. Edição crítica de Marie-Hélène Piwnik. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2009 [1892]. p. 225-249.

QUIÑONES, Fernando. Opiniones de algunos autores sobre el cuento. In: BRANDENBERGER, Erna. Estudios sobre el cuento español contemporáneo. Madrid: Editora Nacional, 1973. p. 143.

SENA, Jorge de. Conto brevíssimo. In: SENA, Jorge de. Antigas e Novas Andanças do Demónio. Lisboa: Edições 70, 1984. p. 167-169.

SILVA, Vítor Aguiar e. O conto como escrita dialógica entre o modo narrativo e o modo lírico. In: SILVA, Vítor Aguiar e. Colheita de Inverno. Ensaios de Teoria e Crítica Literárias. Coimbra: Almedina, 2020. p. 273-289.

Publicado
2024-04-21
Como Citar
Rodrigues, I. C. (2024). Do conto como cânone da poesia: Eça, Machado e as aporias da modernidade. Convergência Lusíada, 35(Esp.), 12-40. https://doi.org/10.37508/rcl.2024.nEsp.a1214