Pessoa xamã

  • André Gardel Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)
Palavras-chave: Heteronímica, Xamanismo amazônico, Alteridade, Tradução-transdução, Acoplagem

Resumo

A hipótese de leitura aqui defendida é a de que o corpo, em estados limi­nares, do sujeito de enunciação pessoano, doado em sacrifício para que a escrita heteronímica originária se instaure, atua em um tipo de con­cepção literária em que a visão e o visto circulam num mesmo campo de imanência. O que produz uma visão-tato, em copresença, que incor­pora o outro e o transmodela em clivagem de si, abrindo infinitas novas alteridades. Leitura que, por caminhos e naturezas diversas, aproxima, comparativamente, os processos de acoplagens de alteridades do xamã amazônico, baseado em alianças político-espirituais, da heterológica de Pessoa. Assim como entrevê, ainda, similaridades entre os espaços-tem­pos adentrados por ambos – o caos pré-cronológico pessoano e o passado absoluto xamânico – para que tais operações ocorram.

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Biografia do Autor

André Gardel, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

É escritor, professor Associado IV de Letras e Artes Cê­nicas da UNIRIO, cantor e compositor de música popular. Possui quator­ze obras publicadas; dentre elas, o premiado O encontro entre Bandeira & Sinhô (1996) e o romance A viagem de Ulisses pelo rio Amazonas (2021). Lançou quatro CDs, um EP e dez singles. Seu mais recente livro de poe­sias, publicado em 2024, se chama Fios invisíveis (Patuá).

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Publicado
2024-04-21
Como Citar
Gardel, A. (2024). Pessoa xamã. Convergência Lusíada, 35(Esp.), 176-201. https://doi.org/10.37508/rcl.2024.nEsp.a1264