O pecado de João Agonia, de Bernardo Santareno: entre ironia, opressão e silêncios

  • Márcio Ricardo Coelho Muniz Universidade Federal da Bahia
  • Solange Santos Santana UFBA

Resumo

Neste artigo, interessa-nos perceber e demonstrar os elos entre a arte dramática e a sociedade, e, mais especificamente, como a ironia joga com as representações sociais presentes no texto dramático O pecado de João Agonia do português Bernardo Santareno (1924-1980). Ironia aqui é concebida como estratégia discursiva que, muitas vezes, se configura como um “[...] modo de combate, tornando-se uma paixão negativa para deslocar e aniquilar uma representação dominante do mundo, uma paixão que é vista como especialmente crucial quando os discursos estabelecidos e dominantes mostram grande capacidade absorvedora” (HUTCHEON, 2000, p. 54). Pelo fato de essa estratégia discursiva não poder ser compreendida separadamente de sua corporificação em contexto, a abordagem do texto estará calcada na dialética texto/contexto, levando-se em consideração o locushistórico-cultural em que foi produzido. A literatura, enquanto um dos elementos que representam a vida social, interage com o meio circundante na medida em que o recria e é impelida pelas estruturas histórica e cultural de um país. Santareno testemunhou e vivenciou a ditadura salazarista que, com a força da censura e o apoio da Igreja Católica, buscou inibir a liberdade criativa de todos aqueles que pudessem ir além dos códigos de conduta vigentes. O uso da ironia pelo dramaturgo vem permitir a fragmentação das relações e significados sociais e, por conseguinte, a liberdade para a desconstrução dessas realidades e/ou para uma redefinição do mundo e das relações humanas. Neste sentido, pode-se afirmar que a ironia, na obra santareniana, apresenta-se também como uma “maneira especial de questionamento, de denúncia, de desmascaramento, de argumentação indireta, de ruptura com elementos estabelecidos” (BRAIT, 2008, p. 139). Vejamos, pois, como em O pecado de João Agonia a ironia recai sobre componentes da sociedade portuguesa, nomeadamente, a forma como são representados o meio social, as personagens, a sexualidade, as superstições, os preconceitos e as relações de poder.

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Publicado
2017-08-25
Como Citar
Coelho Muniz, M. R., & Santos Santana, S. (2017). O pecado de João Agonia, de Bernardo Santareno: entre ironia, opressão e silêncios. Convergência Lusíada, 22(26), 160. Recuperado de https://www.convergencialusiada.com.br/rcl/article/view/135